Desvendando a contradição: Fora de Série X Pontos Fortes (Parte I)

Você prefere confiar na prática deliberada ou em seus talentos naturais quando se trata de aprendizagem?

Nessa vídeo-aula, nós vamos finalmente desvendar o aparente paradoxo que existe entre as ideias dos livros Fora de Série e Descubra Seus Pontos Fortes, sendo que os dois são baseados em pesquisas científicas bastante sérias. Além de desvendar esse paradoxo, nós também teremos uma atividade em que usaremos as principais ideias desses autores no nosso dia a dia de estudo e, principalmente, de forma prática.

Confira assistindo ao vídeo:

Começamos fazendo uma breve síntese de quais são as ideias desses dois livros.

Fora de Série

A grande ideia que o Fora de Série trouxe ao público (e que o tornou um livro famoso) é de que o talento não é uma variável tão importante quanto se pensa importante na hora de determinar se uma pessoa terá ou não terá um alto desempenho em alguma área na vida ou em alguma habilidade cognitiva. Estamos falando de habilidades como jogar xadrez, liderar uma empresa ou ser um bom atleta, por exemplo.

No livro, o autor Malcolm Gladwell mostra que o alto desempenho está ligado a uma prática chamada prática deliberada. Uma das características da prática deliberada é que ela atua sobre os pontos fracos de uma pessoa. Em outras palavras, você destrincha uma determinada habilidade em partes menores e usa a prática deliberada para melhorar os seus pontos fracos.

Descubra Seus Pontos Fortes

Já para o livro Descubra Seus Pontos Fortes, o alto desempenho é algo que depende de uma pessoa usar ou não as tendências naturais que ela tem. Nesse caso, os autores estavam focados na questão do desempenho profissional, mas sugerem que isso serve para qualquer atividade ligada à cognição.

Marcus Buckingham, autor do livro, descobriu nas suas pesquisas que o ser humano pode exibir até 34 tendências naturais relacionadas ao modo como atua no mundo, e cada pessoa tem cinco dessas tendências muito mais fortes do que as outras: esses são os famosos “pontos fortes”.

Um detalhe apontado pelo Buckingham é que essas tendências são bastante imútaveis ao longo da vida e, em certa altura do livro, ele comenta que isso vai contra as ideias do Fora de Série. Para ele todos temos talentos que não mudam com a idade ou com o passar do tempo. Se a pessoa tem cinco pontos fortes dominantes em sua vida, pelo menos a maioria deles vai nos acompanhar para o resto da vida.

Diantes das duas leituras, ficamos com essa dúvida: o talento é importante como diz o livro Descubra Seus Pontos Fortes ou não é tão importante assim, conforme apontam as pesquisas do Fora de Série?

Essa é a grande questão dessa série de vídeos que estamos fazendo. Aliás, esse é o terceiro vídeo da série. Os dois primeiros explicam melhor as ideias de cada livro. Então, se você quiser ir mais fundo nelas antes de prosseguir, clique nos links a seguir e confira-os agora mesmo:

Fora de Série X Pontos Fortes: Quem está certo?

Quando o Marcus Buckingham e o seu colaborador sugerem que as ideias deles estão em frontal oposição às ideias da pesquisa do Malcolm Gladwell, eles acabam gerando uma grande confusão. E é relativamente difícil desenrolar essa confusão porque os dois livros são baseados em pesquisas, portanto a gente pode não pode simplesmente se basear em “achismos” sobre quem está certo…

É preciso tentar compreender o que está por trás dessa aparente polêmica. Na minha opinião, foi criada uma confusão desnecessária. Vamos tentar desenrolar isso?

Talentos especificos e tendências psicológicas

Os dois livros estão falando de coisas que são parecidas, mas essencialmente diferentes. Por um lado, existem os talentos especificos, ou seja, o talento que um indivíduo tem para ser médico, jogador de futebol, enxadrista, etc. Por outro lado existem as tendências psicológicas: uma pessoa tem tendência a ser mais competitiva, outra tem tendência a ter mais empatia com os outros, uma terceira pende para a intelecção e por aí vai…

A grande sacada é que essas são tendências que não tem a ver com “essa” ou “aquela” profissão. A princípio elas podem ser usadas a favor de qualquer habilidade cognitiva.

Cada ideia no seu lugar

O talento especifico, de acordo com a meta-pesquisa do Gladwell, não é uma variável fundamental. Na verdade, o talento é algo realmente difícil de ser medido. É possível induzir uma pessoa a achar que ela tem talento e criar um circulo virtuoso: ela começa a alimentar a ideia de que ela tem talento por causa de um bom desempenho, e com isso se sentir estimulada a melhorar ainda mais.

No entanto, é muito difícil enxergar a origem primeira do talento e descobrir se ele realmente é uma coisa que a pessoa trouxe com ela ou se é algo que ela desenvolveu naturalmente. De qualquer forma, as pesquisas citadas no Fora de Sério mostram que isso não é o mais fundamental para se alcançar o alto desempenho.

Em resumo: se você observar um grupo de crianças em uma certa idade (medindo a presença ou ausência de algum talento específico) e analisar seus desempenhos novamente após 10, 15 ou 20 anos, você verá que a quantidade de “talento inicial” não é tão fundamental assim. O que é determinante mesmo é quanto tempo aquelas pessoas investiram em prática deliberada.

Por outro lado, é preciso levar em conta que o Buckingham acompanha pessoas já adultas e fala sobre o universo do trabalho. Então, ele pode ter acompanhado várias pessoas durante 30 anos de trabalho e chegar a conclusão de que suas tendências psicológicas não mudaram. No entanto, não se sabe como eram aquelas pessoas na infância e na adolescência.  Portanto, ao afirmar que as tendências psicológicas são estáveis, o autor estende as suas conclusões para além do universo que ele efetivamente estudou.

A conclusão de Buckingham

Agora a conclusão interessante que o Buckingham traz – e que é realmente útil para o dia a dia de quem quer melhorar sua habilidades cognitivas – é que devemos usar as tendências psicológicas naturais a nosso favor, independente da área em que se esteja atuando.

Veja um exemplo para deixar isso mais claro:

Existem vários médicos excelentes por aí, mas cada um deles é um excelente médico do seu jeito diferente. Suponha três pessoas diferentes que sejam excelentes médicas:

  • Uma dessas pessoas se tornou uma médica excelente porque ela é uma boa ouvinte, então ela consegue se concentrar naquilo que o paciente está dizendo e extrair dali as informações que são relevante para fazer um bom diagnóstico e apontar o tratamento.
  • Uma outra pessoa se tornou uma excelente médica porque ela tem um conhecimento muito vasto e está sempre atualizada com as novidades, então ela consegue sempre trazer os melhores e os mais apropriados tratamentos para um paciente.
  • E uma terceira pessoa pode se tornar uma excelente médica porque ela tem uma capacidade muito grande de produzir diagnósticos complexos. É aquela pessoa que vai além do “feijão com arroz” das doenças comuns, que aparecem sempre no consultório.

Nesse caso, um bom ouvinte pode ter como ponto forte a empatia; o médico que tem muito conhecimento é uma pessoa que tem como ponto forte o fato dele ser estudioso; e o médico que é capaz de fazer diagnósticos muito complexos pode ter como ponto forte o fato dele ser ideativo e ser capaz de produzir muitas ideias originais de diagnósticos.

Então estas são três pessoas que se tornaram excelentes profissionais fazendo uso de pontos fortes diferentes. É aqui que a gente separa o talento específico da tendência psicológica: as pessoas usam tendências psicológicas diferentes para chegar a exercer bem alguma coisa que, em princípio, precisaria de um talento específico.

Ou seja, não existiria um talento específico para ser médico. O que existe é a pessoa que deseja ser médica e usar bem seus pontos fortes para alcançar a excelência na sua profissão.

Essencialmente, esta é a diferença entre você ter um talento específico e achar que isso determina  que você pode ou não fazer na vida e você ter um ponto forte e usá-lo de uma maneira inteligente para você atingir aquilo que você deseja.

Uma vez que a gente entende isso, vamos ver como a gente pode usar as ideias desses dois autores na prática do nosso dia a dia. O que a gente pode tirar de útil na questão da aprendizagem?

Deixe seu comentário abaixo sobre como você acha que isso se aplica a sua vida!

2 Comentários


  1. Ana Lopes proporcionou fazer uma investigação dentro de mim e constatar que os procedimentos até então utilizados por mim na vida profissional podem e devem ser ampliados, e os resultados certamente entregarão ( como já o fizeram) surpresas inesperadas em relação aos meus potenciais. É, ou parece ser a “práxis” do “conhece a ti mesmo”, que amplia o conhecimento . Deixa a sensação de “quero mais!”

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    1. Conhece-te a ti mesmo.
      Eu gosto muito desta frase.
      Acho que ela é repleta de significados para as nossas vidas.
      Boa interpretação a sua.
      Até logo, abs.
      Marcelo.

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